Sucesso de público

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre "Histórias cruzadas"

Octavia Spencer, Emma Stone e Viola Davis
 
  "Às vezes a coragem pula uma geração", a frase da mãe da protagonista da estória, Skeeter (Emma stone) é uma  sutil admissão de culpa e ao mesmo tempo reconhecimento pela "causa" que a sua filha assume.
  "Histórias Cruzadas" (EUA, 2011) tece um importante panorama da sociedade sulista americana da década de 60. Em meio a um forte conservadorismo, repleto de segregações: social, de gênero e racial, somos apresentados a uma típica figura que destoa dos padrões. Emma Stone interpreta a recém formada Skeeter, sonhadora, com ambições profissionais, após sua volta da faculdade, além de procurar um lugar no mercado de trabalho que sonhou (como jornalista), ela ainda busca se adaptar aos costumes do lugar onde nasceu. Sob os olhares e críticas da mãe rígida e das amigas, agora donas de casa "modelo", extremamente preconceituosas ela passa a ser alvo das mais variadas tentativas de se "enquadrar" na sociedade da qual faz parte. 

  O primeiro emprego de Skeeter no jornal local, desenha um pequeno retrato dos obstáculos que uma  jornalista mulher tinha de superar para exercer sua profissão; a coluna que lhe oferecem versa sobre "assuntos domésticos". A moça precisa responder às dúvidas de  donas de casa, que chegam em cartas. Por desconhecer absolutamente o assunto ela solicita o auxílio da empregada de uma de suas amigas, Aibeleen (Viola Davis).

  E é a partir das enfadonhas reuniões sociais que passa a frequentar, das conversas recheadas de convicções tão diversas às suas, do seu olhar crítico a respeito das relações entre as "senhoras" e as suas criadas, que ela encontra personagens e cenário ideais para escrever uma estória suficientemente interessante para ser publicada. Skeeter se propõe a relatar o lado "mudo" da relação "patroa e empregada" e para dar voz a esse grupo ela utiliza-se da sua pequena aproximação com Aibileen, que experiente parece-lhe repleta das boas estórias das quais está atrás.

  Inicialmente, Aibeleen resiste às questões mais profundas e controversas, afinal sua relação profissional tem como característica preponderante a discrição. Porém, a partir da demissão de sua amiga Minny (Octavia Spencer) e da humilhação diária a qual vê sua classe ser submetida ela resolve que é preciso que alguém fale, abrindo uma possibilidade de mudança. Sketeer, em busca de mais estórias e um número maior de personagens, utiliza-se da respeitabilidade que Aibeleen tem perante ao seu grupo para angariar novos depoimentos. 

  A partir das reuniões na casa de Aibeleen, somos convidados a conhecer o "mundo das empregadas domésticas" da sociedade norte americana dos anos 60, com uma carga elevada de dramaticidade e pitadas de humor, as estórias dessas mulheres destituídas de diretos simples como: liberdade de escolha, arrancam lágrimas, despertam alguma revolta e muita empatia.

  Embora a relação de Skeeter e Aibeleen se torne cada vez mais estreita e terna (com alguma cumplicidade), para mim, uma relação secundária, de personagens também "menos" destacados tocou mais fundo. A da empregada Minny e da recém casada Celia (Jessica Chastain). Minny é a personagem mais admirável da narrativa, é cheia de personalidade e contraria os adjetivos que agradam as "senhoras", o da submissão e  da aceitação de sua condição. E. é por isso que é demitida da casa em que trabalha e encontra muita dificuldade de conseguir um novo emprego. Em função de uma vida duríssima (inclusive é vítima de violência doméstica) Minny resiste em confiar e estabelecer uma relação mais próxima com Celia, sua mais recente patroa.
  Celia, é a outra personagem com a qual também compartilhei minha empatia. A moça pobre casa-se com um rico herdeiro, após engravidar e além de sentir-se obrigada a se adaptar a  sua  nova classe e sociedade, ainda deseja muitíssimo ser aceita pelos "iguais" de seu marido. É aí, que percebo a luta mais sutil e difícil. No caso de Sketeer ela se apoia nas suas ambições profissionais, na experiência que adquiriu na faculdade e na família bem estruturada para, mesmo sem ser aceita, se firmar na sociedade que a repele. Aibeleen se fortalece a partir da própria vivência, de sucessivas ausências e na memória do filho morto. Mas Celia não tem nada que a mantenha de pé, somente a amizade com Minny, conquistada à duríssimas penas, poderá confortá-la em meio a tanta rejeição. Por isso, é com essa relação e com essas duas personagens que mais me emociono.

  O filme, ainda que traga alguns contundentes conflitos, é bastante leve, esperançoso e otimista. É uma perspectiva necessária, que deve mesmo ser conhecida. Porém, ao meu gosto, deixa a desejar no desfecho; o livro com a "Resposta" (nome da obra de Kathryn Stockett que serviu de inspiração ao filme) das empregadas é lançado, é um sucesso. As colaboradoras recebem alguma quantia monetária, Skeeter segue para Nova York em busca da carreira tão sonhada, Celia é finalmente amparada. Há nestes finais uma sensação de "happy end". Mas, e a modificação mais profunda, naquela sociedade tão afeita a aparências? E os problemas de uma classe tão desprovida de respeito e direitos? Para elas não há um final verdadeiramente feliz, nem sequer a menção dessa falta.  Após o seu término, minha percepção é que para o filme só Skeeter é verdadeiramente importante.

  No entanto, há outras perspectivas que considero muito positivas: a tentativa das amigas e da mãe de Skeeter de moldarem-na seguindo os padrões daquela sociedade (cabelo, roupas e comportamento) e quando ela sucumbe as esses modelos ela perde toda a sua graciosidade, aquilo que faz dela tão especial, moral da estória: seja você mesma, ainda que isto custe a antipatia de alguns; a redenção de Aibeleen pelas palavras, a empregada sempre tão contida, calada e discreta conquista algum espaço quando deixa de lado o que esperam dela como profissional e  se "posiciona"; a amizade e afinidade entre pessoas aparentemente tão diferentes (Celia e Minny). Enfim, não é nenhuma grande obra cinematográfica, mas há  no filme, estórias que valem a pena serem conhecidas.

O Filme: Histórias Cruzadas, (EUA, 2011);
                 Direção: Tate Taylor; Duração:146 min

O Livro: A resposta
              Autora: Kathryn Stockett; N° de páginas:574


3 comentários:

  1. Olá, gostei muito da análise. Quando o filme foi lançado fui um dos únicos, dentre meu círculo de amigos, a defendê-lo não só pelas atuações. gosto da narrativa, que flui bem apesar do convencionalismo e até mesmo da abordagem que foi dada para o tema. Estou lhe seguindo!

    Lhe convido para visitar meu blog, o Sublime Irrealidade. O endereço segue abaixo:

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    1. Que bom que gostou J. Bruno, da análise e do filme! Obrigada pelo comentário e visita...beijo

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  2. Eu adorei este filme...Bel.

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Então...