François Cluzet e Omar Sy |
"Drama francês"...não leio o resto da sinopse, não há outras grandes opções em cartaz. É francês, é um drama, duas palavras lidas, duas possibilidades de acerto. O filme começa, há uma perseguição policial, o motorista segue acelerando, o carro é parado, o homem convence os policiais que se trata de uma emergência, o passageiro começa uma crise, ambos são escoltados pela polícia até o hospital e depois de alguns minutos, a farsa é desfeita para o espectador.
"Intocáveis" (França, 2011) é o filme francês mais visto no exterior, ultrapassando o marcante e gracioso "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), a informação eu descubro depois. O certo é que o sucesso não é uma injustiça. O filme é delicioso. O drama é na verdade uma grande comédia, mas é francesa e talvez por isso a confusão do jornal local que o classificou como drama. Filme francês foge dos padrões hollywoodianos, estes mais popularizados. O estilo europeu de fazer cinema é tão classudo quanto a culinária, a moda, a música, é sutil, econômico e "limpo";comédia francesa, à primeira vista pode até ser confundida com drama.
Um homem vai a uma entrevista de emprego, sem desejar minimamente a vaga. Espera ser rejeitado, conseguir um simples carimbo no seu documento, a fim de garantir o recebimento do seu seguro desemprego. O homem é Driss (Omar Sy) um ex-presidiário, petulante, impaciente e imprevisível. O emprego é em uma requintada mansão francesa e o chefe, Philippe (François Cluzet), um homem com sérias limitações físicas, consequência de um trágico acidente, essa informação será conhecida mais tarde. Driss rouba um objeto de decoração da casa, demonstra suas reais intenções, mas recebe uma proposta financeira irrecusável para ser o "cuidador" de Phillipe, além de também ser movido pelo desafio pessoal proposto pelo futuro chefe. Perguntado o porquê da escolha de Driss como funcionário, o rico empresário justificará sua inesperada decisão com a frase "estou cansado que tenham pena de mim."
Phillipe está certo, Driss é um grosseirão, aparentemente insensível, chegando aos limites do politicamente incorreto ao tratar o seu chefe/paciente. Não demonstra compaixão, generosidade ou o mínimo de altruísmo, ele tem o seus "próprios" problemas com os quais deve se ocupar. E, a beleza da estória tem seu início, quando assistimos a convivência profissional transformar em uma rica, inesperada e emocionante aproximação pessoal. A dupla passa a apresentar e experimentar os variados gostos de cada um: comida, música, programas e opiniões. Em uma sociedade visivelmente estratificada (Phillipe é o rico tradicional e Driss o imigrante pobre) o filme comove quando ambos são colocados em um mesmo patamar. Não existe professor ou aluno; vítima ou algoz, explorador ou explorado, feliz ou infeliz, os dois personagens exercem ora um papel, ora outro.
"Intocáveis" toca fundo quando indica que a redenção não é papel do santo, do divino, de alguém preparado para esta função. Pelo contrário, a salvação é humana e pode vir de quem menos esperamos, das maneiras mais improváveis. A relação é de reciprocidade, mas com conflitos. De experiência, sem hierarquia. É um filme de amigos que há pouco se conhecem e que, provavelmente, não compartilharão tempos futuros, mas a experiência ainda assim é definitiva, porque é intensa e sincera. O drama de "Intocáveis" é só mesmo fora das telas, é quando percebemos quanto tempo perdemos nesta vida, achando que tudo é um drama, quando era só comédia. Talvez seja só uma comédia francesa e a gente aqui "classificando" como drama...
"Intocáveis"(França, 2011)
Direção: Olivier Nakache e Eric Toledano
Duração:112 min.
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