Sucesso de público

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Cada um descobre seu jeito - Sobre "Reencontrando a Felicidade"

Nicole Kidman

  
"Cachorro persegue esquilo, criança persegue cachorro. Não há culpa". Com essa frase, em uma constatação banal, vemos uma mãe "absolver" o "assassino" do próprio filho. O filme é pesado, quando nos aproximamos desta mãe perdida, abalada e completamente "sem chão" com a morte de seu filho único. A mãe Becca (Nicole Kidman) tem, e o filme não nos esconde isto, uma série de defeitos: cética, agressiva, intolerante. Se recusa a participar de grupos de autoajuda; se revolta com a comparação da sua própria mãe, que também perdeu um filho, na tentativa de consolá-la; rechaça a aproximação do marido; deseja esquecer as memórias do filho morto. Enquanto o marido Howie (Aaron Eckhart), sucumbe aos caminhos aparentemente mais "tradicionais" do luto.

  A trama, para quem está acostumado ao dinamismo dos filmes norte-americanos (com reviravoltas, surpresas e "happy ends") acredito que não agradará, porque parecerá "lento" demais. Aqui, quem brilha são os diálogos, tão acertados, tão brutais e ao mesmo tempo, tão sutis. Os personagens, especialmente a Becca, de Nicole Kidman, é a figura mesmo de alguém cuja perda enorme, abala as estruturas mais profundas de perspectivas, projetos, valores e crenças. A mulher dura com a família e os amigos "pós-perda do filho", é doce, indulgente e receptiva com o garoto que atropelou e matou, acidentalmente, seu amado filho. E é nesta aproximação inesperada que vemos a possibilidade de "reconstrução" de Becca e do garoto Jason ( Milles Teller). Howie é o outro lado da balança, o personagem do pai "em luto" e, até certo ponto, o sensato, mais estável. Cuja dor é falada, demonstrada sem receio e, de certa maneira, com alguma aceitação. A mãe de Becca (Dianne Weist) também é uma ótima perspectiva a ser contemplada. Vê a filha sofrendo a perda de um filho, assim como ela também um dia sofreu, perde seu único neto e na tentativa de consolar a filha, é rejeitada.

  A obra é um exercício constante de empatia e identificação; para os espectadores mais  habituados a este tipo de drama psicológico, há algum sofrimento também. E a medida que a trama avança enxergamos a possibilidade desta família despedaçada se "reencontrar", embora não haja mesmo, no filme, um definitivo "Reencontro com a felicidade", assim como na vida. A trama "ensina" (sem pretender ser didática), o que há muito sabemos: a dor é uma experiência única e pessoal e para a sua "saída" só mesmo cada um de nós poderá estabelecer seus caminhos.


"Reencontrando a Felicidade" (Rabbit Hole, EUA,2010)
Direção: John Cameron Mitchell
Duração: 91 min.


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