Sucesso de público

terça-feira, 7 de maio de 2013

Humanos... sobre "Somos tão jovens"


Thiago Mendonça

  O que faz com que um alguém se torne um ídolo? Quais as características super especiais que alguém precisa carregar para sobressair-se, conquistar e deixar um legado artístico para uma sociedade? Qual é a medida da obra de um artista, produtividade, popularidade ou relevância para o seu tempo? A cinebiografia de um dos maiores artistas brasileiros não responde diretamente tais perguntas, mas ilumina tais reflexões. "Somos tão jovens"( Brasil, 2013), ainda que exista controvérsias, é sim, um ótimo filme sobre uma figura das mais importantes do cenário, variadíssimo, da música brasileira.

  O filme, entre seus personagens verídicos, facilmente reconhecíveis, do Rock brasileiro da década de 80 e alguns "inventados", traz a história da vida pré-ídolo de Renato Manfredini Júnior, o Renato Russo. O adolescente curioso, ávido por conhecimentos diversos: astrologia, filosofia, literatura e música (mais tarde podemos comprovar cada uma das influências desses temas em sua obra), entre erros e acertos, tentativas, muitas vezes desastradas de formar sua tão sonhada "banda punk", muda seu gosto, tema, se reinventa e, mais tarde, cria mais que uma banda, um jeito próprio de compor, se apresentar, cantar e até mesmo, viver.

  O maior mérito do filme não é, de maneira alguma, retratar de modo fiel os caminhos para a construção de um ídolo, pelo contrário. A produção cinematográfica mostra um sujeito completamente humano, antes de tudo falível, imperfeito, caótico, passível das piores mazelas a que todos nós também estamos expostos. Um indivíduo se construindo e dialogando o tempo todo com suas questões morais, filosóficas, afetivas e profissionais. Um jovem questionador crescendo em meio (no olho do furacão) de um poder ditatorial, excludente, violento, coercitivo que ora cheio de coragem, ora crédulo da sua incapacidade de lutar, transgride, subverte e também reflete sobre a sociedade a seu redor e, com a mesma profundidade, a sua confusão individual, através das suas composições.

  A mim, pareceu-me inevitável algum grau de identificação com o protagonista, os sentimentos contraditórios, a vontade de fazer tudo e nada,  a sensação de se sentir vazio e ao mesmo tempo cheio, a necessidade de ver o mundo de forma complexa e também singela, mas o que difere um homem comum de um artista é a capacidade de transformar a sua  angústia (e a dos outros) em obra permanente.  E Renato fez música. Música para os amores não realizados, música para sua insatisfação com a política do país, música de pedido de desculpas, para o medo, para as incertezas (tanto as individuais, quanto as coletivas), música que contava estórias que todos precisavam saber, música para o seu caos, o caos do país, do mundo, contou a própria história, a dos seus amigos e a até, aquele nosso mais secreto e inconfessável drama.

 Eis o segredo de um grande ídolo: fazer o que é preciso, com arte, dizer o que todo mundo quer dizer ou ouvir com poesia. Renato Russo é o ídolo, o resto é celebridade, tão ou mais efêmera que os poderosos de Brasília. O cantor e compositor que sempre mereceu lugar especial no meu MP3, depois dessa sessão de cinema, ganha uma proporção mais humana e, ainda mais, admirável aos meus olhos e coração. 


"Somos tão Jovens" (Brasil, 2013)
Direção: Antônio Carlos da Fontoura
Duração: 104 min.






Um comentário:

  1. "Sei que às vezes uso
    Palavras repetidas
    Mas quais são as palavras
    Que nunca são ditas?"

    Foi uma linda homenagem a um artista excepcional, mas inteiramente humano!

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